quarta-feira, março 21, 2012

Lição do dia: Não há velhinhos ansiosos

Perguntaram-me hoje se buzino muito quando conduzo. E eu, fiquei ali a pensar que até sou refilona q.b. e praguejo bastante, mas buzinar, nem sou muito disso. Sou mais de fazer sinais de luzes - um hábito terrível, eu sei, que ganhei com o meu ex-marido que, à mínima coisa, lá estava ele em modo condutor agressivo a fazer sinais de luzes intermitentes e em repeat para o condutor da frente. Eu sou mais de praguejar e ir ali a "refilar" entre dentes, culpabilizar a minha triste sina e pôr as culpas no destino que faz com que, frequentemente, me depare com este tipo de situações, como se fossem mensagens provenientes de uma força maior que me diz para ter calma mas que têm apenas o efeito contrário, pois fico ali a respirar fundo e a contar até dez numa tentativa falhada de auto-controle e no fim, em crescendo, rebento, perco as estribeiras e a calma toda e praguejo... ou buzino!
Bom, isto tudo para dizer que hoje de manhã, quando me dirigia para o trabalho - já atrasada, as usual - deparo-me com um velhinho na faixa da esquerda a conduzir a 30 kms/h. Ora aqui está a típica situação que me faz refilar, praguejar e fazer sinais de luzes. A conjugação de 3 factores: velhinho + carro + faixa da esquerda a 30 kms/h.
Mas eu, que já sou crescida e dona de auto-controle q.b., não buzinei. Não, nada disso. E só fiz sinais de luzes em modo de: "Hello, estou aqui, gostava de passar e andar mais depressa, por favor afaste-se", quando já sentia o desespero a apoderar-se de todo o meu corpo e os carros das outras faixas a passarem-me ao lado. Mas o senhor velhinho lá continuou, impávido e sereno, com toda a calma e tranquilidade do mundo - ou não fosse ele uma pessoa velhinha e as pessoas velhinhas são sempre  calmas e serenas - que nunca este mundo conheceu um velhinho nervoso e ansioso. (por isso, há esperança para mim!)
E eu resignei-me. Não ultrapassei à má fé - ou seja, meter-me na faixa do meio para logo a seguir lhe passar à frente - nem dei uma de mulher à beira de um ataque de nervos, a buzinar como se não houvesse amanhã. Simplesmente resignei-me.
Mas qual não é meu espanto quando vejo o semáforo a ficar amarelo e o carro do senhor velhinho ainda a uma boa distância e, em vez de abrandar, como seria de esperar e como eu própria já estava a fazer, continuou - impávido e sereno - na sua velocidade louca de 30 kms/h, passando o vermelho como se nada fosse.
Foi aí que percebi.
Os velhinhos são todos calmos e serenos - porque no fundo, têm todo o tempo do mundo e já nada vale assim tanto a pena para nos cansarmos antecipadamente - mas um pico de adrenalinazinha logo pela manhã, fá-los sentir vivos e dá outro sabor à vida.

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