segunda-feira, abril 23, 2012

Guilty pleasures

Quando era miúda não gostava de comer. Lembro-me de apanhar valentes sermões da minha mãe, de ser sempre a última a levantar-me da mesa ou de me empurrarem a comida boca abaixo, num acto de completo desespero. À conta disso e de ser de natureza irrequieta, passei boa parte da minha infância e ainda adolescência, com ar de menina subnutrida, onde muitas vezes os mais atrevidos e desbocados me perguntavam directamente ou à minha mãe, se "era doente", coisa que quando acontecia era sinónimo de outro valente sermão por "tamanha vergonha". Não havia cá a cultura da magreza, nem a febre das "top models" que só chegou mais tarde, em plenos anos 90. Não, na minha infância e pré-adolescência, as crianças ainda se queriam rechonchudas e com ar saudável e não esguias e delgadas como uma enguia. Ora, acontece que isso na altura não me preocupava nem um pouco. Eu queria era saltar ao elástico, à corda, andar na rua, jogar ao arco e à macaca e, pelo meio e caso tivesse tempo, lá me lembrava de trincar qualquer coisita só porque isso me permitia continuar aos pinotes que era mesmo o que eu gostava de fazer.  
Bom, o que tem de proveitoso o avançar da idade é que aprendemos realmente a apreciar as coisas boas da vida, a refinar gostos, paladares, odores e a comida, bom, a comida é uma fonte inesgotável de prazer e sedução. Um maravilhoso mundo a descobrir sempre com infinitas possibilidades. Felizmente despertei a tempo e aprendi a gostar e a apreciar - na verdadeira acepção da palavra - para algumas das coisas que hoje me fazem crescer água nas papilas gustativas só de ver e ouvir falar.
Bom, toda esta converseta para dizer que ando cheia de vontade de experimentar e fazer coisas novas. Porque depois, no que toca à cozinha, sou assim de uma incoerência extrema. Há alturas em que ando farta de cozinhar, em que me alimento a leite e torradas, em que só de pensar no que vou ter de fazer para o jantar e de ter, efectivamente de o preparar, me desmotiva e retira todo e qualquer desejo de comer, mas depois, metam-me um petisco à frente - de preferência que leve queijo, enchidos, marisco ou tudo isto junto - e não tenho mãos (nem boca) a medir. Por outro lado, fruto de uma educação gastronómica bastante tradicional, não tenho muita tendência a "inovar" ou a fazer grandes aventuras cujos resultados possam verificar-se duvidosos. Gosto de cozinhar sim, mas não arrisco muito. E, nesse aspecto, o Pinterest veio abrir-me um leque de combinações e receitas como nunca antes tinha tido oportunidade, ou interesse, em procurar. E elas estão ali, bem à frente dos olhos, como que a pedir - "pick me, pick me". É impossível ficar-lhes indiferentes.
E eu, uma fraca completamente assumida, da pior espécie, vou salivando e dizendo a mim mesma que também sou senhora para as recriar ao meu jeito e fotografá-las como quem não quer a coisa. Ontem foram as bolachinhas de nutella - sem nenhum motivo aparente, apenas por puro desejo de fazer um bolo e de meter as mãos na massa - e acho que esta semana não termina sem tentar recriar pelo menos uma destas sugestões.


Pão com queijo de cabra, mel, figos e ervas aromáticas.


Camembert recheado com vinagre balsâmico, pêras, nozes e alecrim

Courgete grelhado com queijo de cabra e manjericão

Dêem-me vinho, queijo e pão e sou uma mulher feliz, ou como diz o "meu" Tony: "Quem não gosta de comer, não merece sequer a minha confiança".

(Ainda bem que acordei a tempo.)

1 comentário:

disse...

Parece que falavas de mim :) sempre fui um pau de virar tripas depois também aprendi a saber apreciar e hoje gosto de comer. Mas há uma coisinha que continuo a não gostar, o de misturar doce com salgado, fruta com "comida"...destes pratos já fiquei aqui a salivar pelo último, é mesmo o meu género :)