segunda-feira, fevereiro 11, 2013

São flores, senhor

A semana passada tive um evento do qual sobraram dois enormes arranjos florais. Geralmente ficamos com as flores que são utilizadas na decoração do espaço caso o cliente não as queira, por isso, acabámos por trazer para o local de trabalho dois centros de mesa gigantes que serviram para embelezar a sala mas que terminado o evento não tinham qualquer finalidade em especial.
Para que não acabassem no lixo, trouxe-os no carro e quando chegámos à agência, um deles foi direitinho para a mesa da sala de reuniões, mas o outro estava "encalhado", ninguém sabia muito bem o que fazer com ele nem onde o colocar devido ao seu tamanho e formato (era oval e não redondo), diziam que parecia um arranjo funerário, pelo que acabou por ser tirado do balcão da recepção e colocado em cima de uma secretária vazia do open space.
Apesar do apelo para que as pessoas tirassem flores do arranjo, fizessem um bouquet e levassem algumas para casa - coisa que eu, por exemplo, fiz  - a verdade é que a coisa não pegou e hoje, quando aqui cheguei de manhã, cá estava o arranjo em cima da secretária, com as rosas brancas, as ervilhas de cheiro, os lírios e as "rosetas-couve" (não sei como se chama aquilo) moribundas e a darem o último suspiro. E se há coisa que eu gosto, é de flores. E se há coisa que me faz sentir que a vida é bem mais bonita e que a natureza é uma obra de arte, são as flores. Por isso, não podia compactuar com aquele crime de as ver morrer, diante dos meus olhos, sem ter um propósito maior do que aquele para o qual nasceram: mostrarem a sua beleza a todos os que as possam ver.
Olhei em redor e vi um aquário redondo de vidro em cima de uma outra secretária. Vazio, sem qualquer utilidade. Estava ali há semanas, meses, completamente esquecido. Serviu para um evento e pronto, ali ficou sem que mais ninguém lhe desse uso. Agarrei nele e comecei a tirar as flores que ainda estavam apresentáveis do centro de mesa e presas à esponja que as agarrava à vida, para logo em seguida as despejar de forma estéticamente apresentável, dentro dele. Numa espécie de obra de arte improvisada, este "arranjo floral aquático" tornou instantaneamente o meu dia mais bonito. Foi o gesto que deu ânimo a uma segunda-feira chuvosa, o apontamento de beleza diário necessário à minha existência e a prova de que mesmo nos ambientes mais agrestes e hostis, conseguimos fazer passar pedaços do nosso mundo interior mesmo que mais ninguém dê conta, mas que nos definem enquanto pessoa.
E agora lá está ele na entrada, para toda a gente ver. E eu estou feliz.
 

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