quinta-feira, agosto 04, 2016

Quando pedir um corte à Cláudia Vieira dá bronca

Decidi cortar o cabelo. Já andava com essa vontade há algum tempo – prefiro ver-me com os cabelos mais curtos do que compridos – e, após um dia de trabalho, num repente, saí do escritório e fui a um cabeleireiro aqui perto indagar se, mesmo já passando das 19h00, ainda ia a tempo de cortar. Disseram-me que sim, sentei-me e aguardei a minha vez. Pelo meio decidi ainda pintar, o qual também acederam. Tudo corria bem até ao momento do corte propriamente dito. O cabeleireiro, um jovem com penteado moderno digno de jogador da bola pergunta-me como quero fazer e eu, que ia munida de uma imagem, mostro-lhe. A imagem era a da Cláudia Vieira e do seu famoso corte curto que eu gostaria de replicar. Não sei se foi o facto de ter levado uma imagem à qual ele se deveria de basear ou por dizer que o cabelo da Cláudia não é naturalmente ondulado e que aquelas ondas são feitas com o ferro ou com escova – e que eu também consigo replicar – a atitude do rapaz mudou e começou a responder-me torto. Primeiro dizia que não ia conseguir aquele efeito, segundo não queria cortar-me o cabelo pelo queixo – como eu gostaria – e terceiro, que teria de me escadear o cabelo todo. Quando chegou a esta parte perguntei: escadear o cabelo todo, como assim? Devo ter feito a pergunta da morte, porque olhou para mim com um total ar de desprezo perante a minha pergunta e, não se dando sequer ao trabalho de me responder, virou-se para a coordenadora e pediu para ela o fazer. Nesta fase respirei fundo e, quando a rapariga se aproximou, voltei a repetir o que gostaria de fazer e que me explicasse em concreto o “escadear o cabelo todo” até porque não era esse o objectivo que tinha. Ela lá me disse que sim, teria de “picotar” as pontas para elas ganharem leveza de forma a conseguir replicar aquele efeito de ondas que desejava. Percebi imediatamente e disse “claro que sim”, sei perfeitamente o que significa “picotar” em gíria de cabelos – que  apesar de ser a mesma coisa que escadear, tem ligeiras diferenças – algo que o rapazinho de corte da moda não soube fazer ou para o qual nem sequer teve paciência.
Começa o dito cujo a “picotar-me” o cabelo, mas deixa-o exactamente do mesmo tamanho em que se encontrava, ou seja, a bater-me nos ombros. Quando me vejo ao espelho decido que não é aquilo que quero e peço que me corte o mesmo pelo queixo. Haviam de ter visto a cara dele. Deitava fogo pelos olhos e, munido da tesoura, começa a cortar-me o cabelo violentamente. Ainda tive medo, confesso, que me deixasse careca – um homem enfurecido com uma tesoura na mão tem tudo para correr mal – mas no final o resultado foi tal e qual o que eu pretendia.
Disse-lhe, esbocei um sorriso, agradeci e ainda me meti com ele, amigavelmente, na tentativa de quebrar o gelo e a postura de forma a desanuviar o ambiente. Fiz mal. Ele respondeu-me de forma torta e antipática. A partir daqui fiquei passada. Ali estava um badameco de um miúdo arrogante a tratar uma cliente que nunca havia sido antipática com ele, a responder-me com duas pedras na mão. Estive o resto do tempo todo a pensar que quando me levantasse daquela cadeira lhe ia responder à letra e metê-lo no lugar, mas nem me deu oportunidade para isso. Assim que acabou de secar e de finalizar, virou-se novamente para a coordenadora e disse: “recebe”, virando costas e afastando-se.
Ou seja, a postura de desprezo e de arrogância, como se tivesse perdido o seu precioso tempo e talento com a minha pessoa, mantinha-se.
Quando fui pagar, a coordenadora do salão ainda tentou elogiar-me o novo look dizendo “que diferença, nem parece a mesma!”, mas nem o elogio lhe valeu. Acabei por me queixar da atitude durante todo o processo e da arrogância no trato por parte do funcionário, até porque não tinha sido mal educada em nenhum momento e apenas pedi para fazer aquilo que queria e para o qual ia pagar.
Ela não abriu a boca. Nem teve coragem. Deu-me o troco, virei costas e saí.
Gosto muito do meu novo corte de cabelo, o rapazinho arrogante fez exatamente aquilo que eu queria e que exigi que fizesse, mas uma coisa é certa: nunca mais lá volto. Fui para casa a pensar que as pessoas ainda não perceberam que para ter um negócio a atitude é tudo, a disponibilidade e atenção para com o cliente, idem. Ele até pode ter talento e cortar muito bem, mas é intragável. Não aceita sugestões ou críticas do cliente, além de utilizar como material do seu trabalho algo que me pertence: o MEU cabelo. Com atitudes e gestos destes a reputação aliada a um negócio – por muito bom que seja – pode fazê-lo ir pelo cano. Os preços até podem ser muito simpáticos e convidativos, o cabeleireiro ser muito bom e o resultado final ser como queríamos, mas tratarem-nos mal? Vale mesmo a pena passar por tudo isso mas sair de um sítio a sentir que fomos maltratadas? Não, meus amigos, não vale.
E como a reputação de uma marca vale muito e o impacto que a mesma provoca no cliente vale outro tanto, já contei esta história a todas as colegas de trabalho que me elogiam o look e me perguntam onde fiz. E agora conto aqui, porque o poder da palavra ainda conta muito, mesmo que muita gente se esqueça disso.
O salão em questão é o SublimeTentação na Expo, os preços podem ser low cost e muito apetecíveis – para terem noção paguei por pintura e corte 18,5€ - uma verdadeira pechincha, certo? Dá vontade de repetir, até porque não pagamos por este serviço um valor igual em mais lado nenhum, mas a atitude do funcionário supera tudo.

Por isso, se forem ao sítio em questão, levarem uma imagem e decidirem pedir um corte à "Cláudia Vieira" à pessoa em questão, tenham a certeza de que querem mesmo muito fazê-lo. Caso contrário, podem sair do salão não como gostariam, mas como alguém acha que vocês deveriam de ficar. Não o permitam.

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