sexta-feira, junho 30, 2006

Summer days



















Ontem tive companhia e o dia teve outro sabor. O C. esteve em casa e aproveitámos para ir almoçar à Ericeira e matar saudades da vista da nossa varanda, das sardinhas assadas com sabor e cheiro a mar e até dos maravilhosos queques de noz e amêndoa que se vendem na vila - e que eu simplesmente adoro! Os meus preferidos são mesmo os de chocolate, mas para azar meu, estavam esgotados. Vim para casa com uma caixa de quatro, dois de amêndoa e dois simples, dois para mim e dois para ele!
Depois do almoço aproveitámos para ir visitar uma quinta que tínhamos visto à venda na internet. O dia estava soalheiro e agradável, pelo que pudemos ir de janelas completamente abertas e tecto de abrir para trás, aproveitar o vento que se fazia sentir - que me deixou o cabelo num caos - mas o espírito leve e gozar o passeio. A sensação que tinha era de que o dia era Sábado e não o de uma simples Quinta-feira.
Quando chegámos ao local a primeira impressão foi a do espaço. Era imenso, enorme e completamente em ruínas. Numa só palavra, era lindo. Quando olhei em meu redor, tentei entrar numa cápsula de tempo e imaginar tudo reconstruído, mas a largeza do exercício transcendia a minha pobre imaginação. Uma coisa é certa, aquele lugar tinha um enorme portencial. Por momentos consegui imaginar um enorme páteo calcetado, casinhas baixas pintadas de branco e azul e uns potes de barro enormes com sardinheiras a cairem em cascata, um terraço com chão de terracota, onde eu lia à sombra de uma parede de pedra forrada a era, enquanto a vista se perdia sob um estreito caminho rodeado de velhas árvores centenárias. Ao fundo, uma velha capela - agora reconstruída - com o seu altar em madeira recuperado e pintado novamente de cores delicadas. Quase que apetecia ter o espírito ocupado nestes pensamentos enquanto explorávamos o lugar, guiados pelo vendedor que lá nos ia dizendo que devido a partilhas e heranças a quinta tinha perdido metade da sua grandeza e extensão e que por esse mesmo motivo, se encontrava bastante dividida, possuindo ainda um rendeiro a morar naquelas velhas casas de pedra que o tempo insistia em derrubar. Por todo o lado havia animais, cães, galinhas, pintos, ovelhas, cavalos e até coelhos que corriam pelo terreno à velocidade de quem corre pela vida. Na propriedade existiam ainda sobreiros, furos de água e uma figueira centenária, enorme e imponente, que me fez lembrar o tempo da minha infância, quando possuía uma no quintal e a trepava para comer figos directamente da árvore.
Pensei em qual seria a história daquele lugar, quem lá viveu, que cenários, vidas e almas teriam por ali passado... Por momento arrepiei-me só de pensar nisso. Quando se visita um lugar destes, a cair de velho, mas cheio de misticismo à mistura, nunca sou capaz de deixar de pensar nestas coisas. Quando se compra uma quinta como aquela, compra-se um passado, que o vendedor não soube desvendar, mas que a mim me atraí como um íman e que merece respeito e acima de tudo, ser preservado. Porque motivo teria aquela velha e imponente quinta uma capela? Como se deixa um lugar belo daqueles chegar a este estado? Como é possível não passar por ela e ter vontade de lá ficar? O que faz alguém abandonar à sua sorte e pobre glória uma propriedade assim?
Viemos embora com aquela sensação de, 'era isto que queríamos, mas por enquanto não podemos'. Comprar algo assim era abdicar de tudo aquilo que faz a nossa vida actualmente. Era ter um sonho e acreditar unicamente nele.
Não sabemos se estamos preparados para semelhante esforço, mas acredito que também já faltou mais para fazermos uma opção radical deste género. Por enquanto limitamo-nos a ver e sonhar, até ao dia em que quem sabe, o tornemos realidade.

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