segunda-feira, novembro 28, 2016

Amor de irmãos


Não sei o que é o amor de irmãos porque não tenho nenhum. Desconheço o que é aquele amor de sangue, feito de turras e beijos, de partilha e de egoísmos próprios da personalidade de cada um. Não sei o que é dividir o meu espaço e atenção com mais ninguém, ou reclamar pela igualdade de decisões e de oportunidades. Cresci a pedir um irmão ou irmã que nunca chegou aos meus pais e resignei-me a partir de determinada altura, aceitando o meu destino como tal, sem queixumes ou mágoas. Não me considero egoísta por ter sido criada filha única - até porque acho que sempre tive uns pais que souberam dar os abanões certos para a vida nas alturas certas. Nem sempre aceitando muito bem as suas decisões - e muitas vezes ficando profundamente revoltada com as mesmas - mas hoje a saber reconhecê-las. Não me considero 'mimada', nem 'atada', algo que poderia ser ideia intrínseca de um filho único: o exagero do amor. O exagero da atenção. Se durante muito tempo me habituei a ser filha única e a viver bem com isso, hoje penso como seria a minha vida - e a dos meus filhos - se tivessem a carrada de primos que eu tive (e tenho) o privilégio de ter, tios e tias, a casa cheia no Natal, ou o eventual apoio de saber que tenho ali outra parte de mim, com quem posso dividir mágoas, conflitos ou apoiar. Uma extensão. 
Não sabendo, continuo a viver na racionalidade do presente e no isolamento próprio que, desconfio, todos os filhos únicos necessitam. Não existe, nunca existiu, sou só eu a descendência directa dos meus pais - com tudo o que isso tem de bom e de mau - e sempre que ouvia alguém falar do amor de irmãos, por mais que entendesse, nunca percebia muito bem o seu verdadeiro significado. Não conseguia entender a sua totalidade - apesar de achar que sim, de supor - porque nunca a tinha vivenciado... Até que tive filhos. Primeiro ela, filha única durante 6 anos e agora ele. E só agora, com a chegada dele, feita também com muitos ciúmes à mistura (faz parte), aprendi (e vi!) que o amor de irmãos existe e é algo que não se explica. É algo que se sente, intrinsecamente. Algo que nunca terei. Algo que invejo, nesta partilha da qual nunca fiz parte. 
Só isso explica a cumplicidade destes dois, a paixão dele por ela - chama-a de manhã à noite - mesmo quando não está e é a ela que dá os sorrisos mais rasgados, os melhores beijos e para quem vai a correr quando chega. 
Que se conservem assim sempre. 

1 comentário:

Maffa disse...

Que queridos!!