quinta-feira, dezembro 03, 2009

do fim de semana

Não há famílias perfeitas, eu sei, e a minha não é exemplo para ninguém. Falamos alto, ralhamos mais alto ainda, somos pândegos, pouco distintos e barraqueiros, mas conseguimos ainda manter uma certa união familiar constante, que se traduz em convívios mais ou menos regulares, sempre em redor da mesa, onde comemos, bebemos, rimos e somos nós próprios.
Na pequena 'quintinha' dos meus tios fazemos muitas almoçaradas. As miúdas andam de baloiço, brincam com os gatos, vêem os animais. De verão sentamo-nos à sombra do alpendre, de Inverno refugiamo-nos dentro da casa, bebemos copinhos de aguardente e ginga caseira, assamos castanhas, cantamos fados. As árvores de fruto estão sempre carregadas das mais variadas iguarias. Este fim-de-semana andámos às romãs, às amêndoas e aos kiwis.
A Madalena só queria o colo do avô e fazia verdadeiras sessões de gritaria sempre que o meu pai pedia para 'descansar'. A minha filha tem uma verdadeira obsessão por homens... vai ao colo de todos, mesmo dos estranhos, já com as mulheres a conversa muda de figura.
À mesa reina sempre a confusão de pratos, de comida, de 'dá-me as batatas', 'pássa-me o arroz', 'não queres carne?', 'olha aqui o feijão'... e todos ficamos de barriga cheia, satisfeitos e bem dispostos. Nem a chuva nos demoveu, nem a lama que se agarrava aos sapatos. Seguiram-se os doces e os estômagos dilatantes, que de tão fartos, já não esticavam mais. 'Haja fartura', ouve-se dizer, entre outros ditados populares que sempre abundaram lá por casa.
Sentada à cabeceira da mesa, a minha filha repetia o segundo prato de carne com arroz e pão. Tão pequena e já tão nossa. A rir-se que nem uma perdida, feliz que estava com tanta gente em seu redor e a dar-lhe atenção.
Sempre quis ter filhos por isto, para que eles cresçam rodeados por esta harmonia familiar, que ainda existe. Para terem os avós, os tios, as primas em seu redor. Para que saibam e dêem valor de que isto que nós temos, apesar de pouco, é muito, é mais do que muitos têm, é algo de muito valioso, é algo que muitos querem.
A minha família também me chateia, tem coisas que me tira do sério, outras que me deprime, que me irrita, que me fazem ter alturas de querer mandar todos dar uma curva ao bilhar grande...
Mas sei que um dia, todas estas pessoas deixarão de aqui estar e sentirei uma falta imensa, uma parte de mim partirá com elas. Cresci a ter estes momentos como adquiridos, como uma constante na minha vida. Sempre me proporcionaram alegrias, sempre contribuiram para que hoje, que tenho a minha casa, ter tanto prazer em receber quanto em convidar para entrarem na minha intimidade.
É neles, que muitas vezes, vou buscar alegria, força e equilíbrio.
É neles e com eles, que quero que a minha filha cresça.

1 comentário:

Seni disse...

É um balsamo sem dúvida!
Gostei da parte dos fados, das gingas e das aguardentes! :)))