sexta-feira, dezembro 18, 2009

Julie & Julia

Finalmente consegui ver. Finalmente, o filme pirateado que tínhamos cá em casa e que não tinha som nem legendas, foi substituído por outro que um amigo nos presenteou e ontem, só ontem, consegui estar perto de duas horas absorvida pela história.
Confesso que não sabia nada, absolutamente nada sobre o filme. Apenas que tinha a maravilhosa e inigualável Meryl Streep e para mim, isso já era motivo de sobra. Adoro-a, acho-a fantástica, queria ser amiga dela. É, sem dúvida, a minha actriz de eleição. É monstruosa a Meryl, tão boa que até dá arrepios.
Mas o filme, o filme tocou-me muito, muito mesmo. Às vezes há filmes assim, que sem motivo aparente me fazem chorar e eu ando ali, a lutar com as lágrimas, para que ele não perceba que me deixei levar pelas emoções e me goze como se fosse uma Madalena arrependida. Ontem consegui disfarçar bem. Ele não percebeu que aquilo que via projectado no ecrã, é, em parte, aquilo que gostaria que sucedesse comigo, num outro contexto, sem necessariamente envolver comida.
Com 31 anos sinto-me perdida. Sem rumo. Se os 30 são os novos 20, os meus estão a ser de fugir. Se esperei tanto pelos 30 para ser mãe, então, a dádiva da maternidade, estou a pagá-la bem caro. Se aos 30 era suposto já sabermos o que queremos, então eu sou a excepção que comprova a regra, porque sinto-me como uma criança acabada de nascer. Eu já não sou eu. Não me sinto segura como me senti com 20, nem certa do meu valor como me senti com 20, nem sei se realmente sei fazer alguma coisa. Duvido de tudo, até das minhas capacidades.
Tento continuamente motivar-me. Tenho dias em que acordo esperançosa, em que sinto que algo de bom vai acontecer nesse dia, em que esta fase está a chegar ao fim. Abro o email 500 mil vezes ao dia à espera de notícias boas, de surpresas, de algo que me faça dar pulos de alegria.

Nunca chega.

Tento ter iniciativa para as mais variadas coisas: entregar cv´s pessoalmente, tentar marcar reuniões, enviar sinopses dos meus livros, disparo em todas as direcções. Não acerto em lado nenhum. Ando sempre aos tiros no escuro.
Ver o filme de ontem foi confrontar os meus próprios fantasmas. Foi sentir-me frustrada comigo mesma. Foi uma dualidade interior.
Resta-me a esperança, como diz a minha Marlene, de saber que Saramago só publicou o seu primeiro livro com 40 anos.

Tenho 9 anos para não me considerar uma verdadeira falhada.

1 comentário:

Seni disse...

Oh Mafalda, não gosto nada de te ler assim... Continua com a ta força com a tua luta! Não baixes os braços.
Big kiss