sexta-feira, fevereiro 21, 2014

WTF

 
Andava eu aqui num pequeno momento "laissez faire, laissez passer" de sexta-feira, a "lamber" a imprensa cor-de-rosa, quando dou de caras com esta notícia.
O que me espanta aqui nem é a troca de acusações dos dois, a picardia, ou o bate boca. O que me espanta aqui é insinuarem que quem veste um 36 "não é magra"?!?!
WTF?
Eu que visto um 40 de calças (eu bem disse que sou rapariga de grande estrutura óssea), devo ser obesa. É que só pode! Ou isso, ou posso ter uma bela carreira como "plus model".
Caramba, a vida é mesmo injusta. Lembro-me de ser adolescente e ser magra que nem um canivete. Magra de dar dó. O meu pai chamáva-me "Olivia", numa clara alusão à Olívia Palito e eu odiava. Odiava com todas as minhas forças, entristecia-me, era uma espécie de "bullying" verbal que me fazia odiar o meu corpo ainda mais. Para acentuar ainda mais a minha falta de formas, sempre que me apresentava a alguém das suas amizades que ainda não me conhecia, o meu pai - no seu típico humor caústico - gostava de fazer referência ao meu peito chato, dizendo sempre "Esta é a minha filha Mafalda e sai ao pai". Aquilo era horrível de se ouvir, ainda hoje o é, mas mais quando se é adolescente, insegura, complexada, alta como um escadote e sem formas visíveis. Cresci com o sentimento de sempre me achar diferente de todas as minhas amigas, sentia-me uma extraterrestre quando comparada com as minhas colegas, todas mais baixas que eu, com ancas, rabos e mamas que saltavam à vista e que despertavam a atenção dos rapazes. Passei o secundário todo sem ter um namorado, enclausurada na minha concha, a desejar ser outra pessoa, a ter nascido com outro corpo. Aquilo perturbáva-me tanto que houve um momento em que vestia calças de pijama por baixo das calças de ganga apenas para parecer mais "cheia", com mais formas, ter mais volume, mas nem mesmo assim a coisa se dava. Para a minha mãe era como facadas no peito sempre que se dava conta que eu, mesmo em pleno verão, andava com calças de pijama por baixo dos jeans e por mais que ralhasse comigo não havia nada, nem argumento algum, que me demovesse do contrário. Só assim me sentia segura, só assim me sentia mais "normal" e parecida com o resto. Era isso que eu ansiava, ser "parecida com o resto", com a "regra", com o que os outros consideravam "dentro da regularidade".
Acontece que nem sempre somos como o resto e ainda bem! Se na altura me faltava a maturidade para me aceitar tal como era, hoje reconheço que ainda bem que era e nasci diferente, alta e magra - bom, agora já não tanto magra e a julgar pelos tamanhos com que agora definem magreza estou muito longe disso - mas aprecio (e muito) as minhas características físicas. Ainda bem que não sou baixa e passo despercebida na multidão, ainda bem que salto à vista. Hoje gosto tanto das minhas ancas tamanho 40 quanto do meu peito pequenino de copa 34. Se gostava de ter mais um pouco em cima e menos na bacia, sim, gostava, mas é o que há, o que existe e o que tenho.
É que isto de se andar sempre como as manadas, em carneirada, apenas para agradar a todos, decididamente não é para mim.
Porque eu também já não sou magra porque não consigo, é porque não quero e adoro demais comer para andar a privar-me do que realmente me dá prazer em detrimento de um número. Não é, de todo, isso que me define.

1 comentário:

Maffa disse...

e viva Maturidade!!