segunda-feira, dezembro 17, 2007

fim de ano, novos começos?

Estes últimos dias do ano têm sido intensos, física e emocionalmente. Depois da passada quinta-feira ter ido fazer a conização à Cuf Descobertas e de toda a experiência traumatizante que aquela ‘pequena cirurgia’ me causou, hoje foi dia de acordar cedo, muito cedo, e enfiar-me na sala de espera do Hospital Curry Cabral – onde, numa segunda-feira de manhã - não podia ser mais deprimente. Apesar de tudo, encarei as coisas com uma calma quase anti-natura, pelo menos no que toca à minha pessoa, sempre nervosa e demasiado excitada.
A verdade é que não criei qualquer tipo de expectativas. Já estive mais ansiosa em relação a este assunto. (Pronto, reconheço que minto, porque durante a noite acordei um par de vezes e olhei sofregamente para o relógio para me certificar de que não tinha adormecido, ou quantas horas ainda me restavam de sono.)
Hoje, apesar de saber à partida de que iria receber o resultado da biópsia que fiz há uns meses, não me empolguei, não criei ilusões, apenas queria ouvir o que tinham para me dizer. E o que me disseram, é que afinal, a Ictiose que durante os 29 anos sempre pensei ser ‘Vulgar’, é, não mais nem menos, uma forma mais rara da doença: Ictiose Bulhosa de Siemens.
Isto faz com que novas esperanças ocupem o lugar de frustrações antigas. Começa por mais um pedido de realização de teste genético. Até aqui tudo bem. A teoria é realmente uma coisa bonita, o difícil está em torná-la prática. Neste momento possuo duas hipóteses: ou ir pelo meu próprio meio, contactando directamente com uma clínica em Antuérpia e tentando enviar uma amostra do meu ADN por via DHL, - pagando todos os custos inerentes ao estudo do meu próprio bolso - ou, esperar meses por uma consulta num hospital público e no serviço de genética e tentar que me encaminhem no sentido que pretendo. A médica que me acompanhou no serviço do Curry Cabral foi bastante simpática, apesar de eu ter noção, de que ela não sabia quase nada acerca da minha doença e que estava a anos luz do que era possível fazer em termos de tratamentos. Não me revoltei, nem tentei refutar o conhecimento adquirido. Acenei a tudo com um gesto repetitivo de cabeça, concordei com as afirmações feitas, decidida de que de uma forma ou de outra, eu consigo lá chegar pelos meus próprios meios e vontade férrea. O resto, como costumam dizer os americanos, são ‘peanuts’. Seja com for, encaminhou-me para o serviço de genética da Maternidade Alfredo da Costa, a meu pedido. A partir de agora é comigo. No entanto, e porque o lado humano nestas coisas também pesa, e porque finalmente, acho que um médico tem noção de que um futuro filho com esta doença, terá sempre a vida condicionada negativamente, pediu-me que a fosse actualizando. Quer saber como irá evoluir a minha história, a minha condição de ‘mulher que luta por um objectivo seja porque meio for’. Deu-me o seu email pessoal, assim como a carta de recomendação para a MAC e o resultado da biópsia. Guardei tudo como um tesouro na minha enorme mala, entalado entre páginas do livro Equador que só agora me atrevi a ler e o qual não consigo parar. (adoro quando os livros me provocam este efeito.) Saí do hospital calma e sem uma sensação de euforia que geralmente caracteriza as minhas vitórias, com as mãos demasiado geladas para me sentir sequer, confortada na alma. Sei que irá começar uma batalha maior ainda.

2 comentários:

Anónimo disse...

Uma batalha que tu, uma MULHER com M maiúsculo vais enfrentar com a coragem e a determinação a que já habituaste todos os que absorvem estas linhas tão íntimas como fonte de inspiração para os seus próprios problemas.
Não quero menos que isso, combinado? ;-)
Beijinho

Mafalda disse...

Obrigado linda, palavras destas de apoio, deixam-me sempre mais confortada.
e fica combinadíssimo! ;-)
um beijinho grande*