terça-feira, novembro 17, 2009

em busca de um trabalho perdido

Hoje andei a bater pé. Corri seca e meca, imbuída do espírito empreendedor e dinâmico do 'Yes I Can', movida pela vontade e determinação de que vou ser bem sucedida nesta minha árdua (e ingrata) tarefa de: 'entregar currículos em mão e de porta a porta'.
Ora, para começar, decidi começar em grande, por aquelas que são as 'top of the top' das revistas glamourosas deste nosso pequeno pais à beira-mar plantado e, às 12h30, entrava eu pela porta da Cofina adentro, lampeira que nem um corisco. Tanto excesso de confiança deu nas vistas e claro, fui logo barrada pelo segurança da recepção que me perguntou onde é que eu ia. Lá expliquei que queria subir à redacção da Máxima e da Vogue e entregar, em mãos, o meu CV. (já que pelo email e por correio já lhes perdi a conta...)
Enquanto me pedia um cartão de identificação e tirava os meus dados, a colega, uma rapariga de farda azul, morena, pequena e muito empenhada, ligava num ápice para as redacções, enquanto eu assistia a tudo contrariada, pois já sabia que dali não ia passar.
Bem dito, bem certo. Da Vogue mandaram 'deixar o CV na recepção', lugar onde eu me encontrava, e da Máxima mandaram-me para o departamento de recursos humanos, que por sua vez nem me quis atender. Fiquei mesmo lixadinha. Tão lixadinha que praguejei.
'Eu não vim aqui para deixar Cv´s na recepção. Para isso mandava por email. Eu vim aqui, pessoalmente, para falar com alguém, apresentar-me, para que me vejam'.
A rapariga pequenina e eficiente da recepção sorriu meio a medo e tentou consolar-me na revolta mandando-me regressar amanhã: 'Sabe, eles para não a atenderem (referindo-se aos recursos humanos) é porque estão cheios de trabalho' e eu lá acenei com a cabeça, conformada e dando-me por vencida.
Saí da Cofina danada comigo mesma: 'Mas o que é que tu esperavas Mafalda? Queres ir trabalhar para as duas revistas mais elitistas e snobistas do mercado, depois queixa-te', mas como não sou gaja de desistir facilmente - e como estava apenas a umas ruas da redacção da Elle - toca de começar a andar energicamente para ir bater agora a outra porta.
Cheguei à redacção da Elle à hora do almoço. Mau, portanto. Não estava lá ninguém. E, há semelhança do que me tinha acontecida na Cofina, também fui barrada pelo porteiro que me perguntou logo: 'onde ia'. Desta vez tive sorte e apanhei um senhor simpático que me disse para regressar às 14h30, altura em que regressavam da pausa. Assim fiz.
Andei por aqueles quarteirões a bater perna e a fazer tempo. Enfiei-me numa loja tipo 'Bagatela' e gastei dinheiro em meia dúzia de coisas para a Madalena e alusivas ao Natal, almocei sozinha no chinês enquanto um plasma estava sintonizado num qualquer canal de desporto e onde só passava futebol ao mesmo tempo que eu assistia, na mesa da frente, a um casal de adolescentes que só fazia porcaria e se deixava consumir pelo desejo da paixão. Tive ainda tempo de retocar a maquilhagem e ver se o cabelo estava decente e, às 14h45, estava eu dentro do elevador a caminho do 4ª andar onde reside a redacção da Elle...
Quando passei a porta de vidro, fui parar logo ao open space da redacção/departamento gráfico. Senti-me meio tonta, confesso, ali especada, de pé, sem ter sequer uma recepção onde me dirigir e com toda a gente a ignorar-me. Mal entrei, a directora da revista -a temida Fátima Cotta que goza de uma reputação terrível no meio editorial - bateu com os olhos em mim e fez-me um olhar de desdém, como que a pensar: 'quem é esta?'. Não me intimidei. Para mim, saber que ela andava ali, de pé, a poucos centímetros de mim era a oportunidade perfeita para a abordar, só que, quando ia fazê-lo, fui interditada por uma rapariga que me perguntou delicadamente se 'precisava de ajuda'.
Lá lhe disse ao que ia, o que estava ali a fazer, que queria apenas deixar o meu CV e, se possível, dar uma palavrinha à 'Fátinha' (claro que não a chamei de Fátinha...)
A resposta do outro lado não se fez esperar: 'Ah, isso é que já não é possível. Tem de se ter marcação primeiro...'
Puufff... só me apetecia dizer: 'Yeah, right'! Marcação primeiro! E eu sou a Madre Teresa de Calcutá!' Ela nunca na vida ia aceitar uma marcação com uma perfeita desconhecida que apenas queria 'entregar um CV e falar dela mesma, mas pronto, eu fingi que sim e despedi-me entre palavras educadas e cordiais.
Apesar de ter sido curto e sem qualquer réstia de esperança, eu senti que não foi em vão... aqui ao menos consegui chegar à fala com alguém e, mais importante, a directora da própria revista bateu com os olhos em mim, viu-me e - apesar de me ter virado as costas - o mais provável foi, assim que eu saí dali, a rapariga a quem deixei o CV lho ter ido mostrar, ou dizer o que fazia ali semelhante criatura... por isso, do mal o menos.
Apesar de tudo, como ando sensível e tal, saí da redacção da Elle arrasada, a sentir que todo o meu esforço é em vão e que da forma como o mercado está, não irei conseguir voltar a trabalhar na área editorial.
Quando cheguei ao carro agarrei no volante e pensei: 'Qual o próximo destino?' Lembrei-me então da recente e novíssima Playboy, a única revista do não menos recente e instalado grupo editorial Fresta! E, nem vou de modos, agarrei no telefone, pedi ao Carlos que me visse na net a morada e, 20 minutos depois, lá estava eu à porta do edifício.
Enquanto olhava a placa gigante colocada à porta onde aparecem descriminadas todas as empresas que ali 'trabalham', reparo que aquela que procuro é no 3º andar e, quando ia para tocar, um senhor bem parecido vestido de fato e gravata e com as mãos cheias de sacos do MacDonalds toca na campaínha e apenas diz: 'sou eu, abre a porta'.
Pensei cá para comigo: 'epá, tu tens pinta de administrador, sócio, editor, director da revista' e eu não te vou deixar fugir!! Segui atrás dele até ao elevador e ficámos lado a lado à espera do mesmo. Foi nesse instante que eu, levada pela minha maior lata e coragem, me virei para o homem, encarei-o de frente e, com a maior cara de pau, me apresentei dizendo-lhe quem era e o que estava ali a fazer.
A reacção não podia ter sido mais positiva. O homem - que confesso nunca ter ficado a saber o nome, mas que desconfio seriamente ser um dos big bosses lá de dentro - foi simpatiquíssimo comigo. Disse-me logo: 'Ah, então não vou receber um currículo aqui em baixo, faça favor de subir, venha comigo, temos todo o gosto em recebê-la' e eu, contentinha da silva e a pensar que não podia ter corrido melhor, lá o segui, qual cãozinho bem mandado, até ao escritório.
Quando entrei, fui encaminhada até um sofá de pele, o senhor engravatado e educado foi a uma sala de vidro onde meia dúzia de homens se encontravam em reunião e onde deixou os sacos do Macdonalds que transportava nas mãos, em seguida, dirigiu-se a outra sala de vidro e chamou um outro rapaz que prontamente me veio receber. E foi assim, que eu, Mafalda Antunes (ou Guilhermina Mafalda, como preferirem), estive à conversa com um dos editores da Playboy durante cerca de 10 a 15 minutos. Pude falar do meu percurso, mostrar interesse na publicação, mostrar que possuo disponibilidade e experiência e que, se quiserem e puderem, não se esqueçam de mim, porque sinceramente não me importo nada que a revista mostre maminhas e mais sei lá o quê! Eu quero é voltar a trabalhar nas revistas e 'mai nada'.
O rapaz que falou comigo foi de uma amabilidade que eu confesso já não estar habituada no meio. Mostrou-se super acessível, atento e interessado, falou de que estavam a surgir novos projectos no grupo e que se houvesse oportunidade, sim senhora, não seria esquecida. Acho até que gostou da minha iniciativa. No final desculpei-me por ter aparecido ali de rompante, sem pré-aviso e por, de certa forma, ter interferido com o trabalho da equipa, mas ele lá deixou escapar um 'não é habitual fazerem isto', entre sorrisos, o que eu interpretei como algo positivo e que não os deixou indiferentes.
Despediu-se de mim com um aperto de mão bem forte - outro sinal que considerei positivo - e eu saí de lá contentíssima por ter feito o que fiz.
Claro que pode não dar em nada. O mais certo é não dar em nada, mas pá, só o facto de me terem recebido, perdido 5 minutos do seu tempo a ouvir-me, a mostrar interesse naquilo que já fiz na área, fez-me sentir valorizada e não tratada como 'mais uma', ou 'um pedaço de lixo', algo desprovido de interesse...
Porra, tenho mesmo saudades de trabalhar em equipas com homens! São tãããoooo, mas tãaãããoooo mais cordiais, educados e fáceis de lidar/conviver/trabalhar que as mulheres!!

4 comentários:

Seni disse...

É isso mesmo determinaçao e coragem! Desistir nunca! E olha sabes, ainda te fiquei a admirar mais!
Vais conseguir!!

Maffa disse...

Grande Mulher!! assim é que é!!

Clementine Tangerina disse...

Mafalda, eu gosto tanto de te ler...aiiiii eu tenho muito orgulho na tua força e iniciativa. É claro que vai dar certo...vais ver que sim! força! beijinhos nao desistas!

Melissa disse...

Beeem que grande coragem e espírito. Adoraria ser assim. ;)