domingo, novembro 15, 2009

Uma questão de carolice


À muito tempo que tenho o 'sonho' de editar um livro. Mas, numa altura em que se editam livros aos pontapés, da forma mais ridícula e descartável, sempre me senti medíocre na escrita para o fazer. Escrever, eu escrevo, mas aquilo que escrevo (a maior parte em blogues que vou deixando aqui e ali ao abandono, com farrapos de ideias e pensamentos meus), não considero suficientemente 'bom' para ser sequer enviado para editoras, quanto mais, editado.
Antes de engravidar e durante as horas mortas no trabalho fui escrevendo histórias infantis. Fazia-o com descrição - já que o meu trabalho na agência passava essencialmente pela escrita -, logo, muitas vezes despachava o que tinha pendente e ficava com uma horinha ou duas, em que 'supostamente' ainda estava a a trabalhar, mas que na realidade andava absorta e entretida no mundo da fantasia.
Com este esquema em prática e durante algum tempo, escrevi duas histórias 'granditas' e distintas, mas com uma base mais ou menos comum: os valores da amizade. Depois de concluídas (e numa altura em que nem sequer pensava que ia engravidar nos próximos tempos), fiquei com elas na gaveta. Mas não muito, porque logo decidi concorrer a prémios e concursos literários na esperança vã de alguma delas ser alvo de interesse.
Não foram.
Concorri ao prémio Matilde Rosa Araújo da Câmara Municipal de Almada em 2007 e claro, não ganhei, nem me disseram nem 'ai' nem 'ui', mas não desisti, e toca de andar sempre à coca do que poderia fazer para editar as ditas histórias. Numa altura em que o 'boom' de figuras públicas que editam livros infantil atingiu o seu expoente máximo, eu sentia-me a 'pseudo-escritora-desconhecida' mais azarada do mundo.
Foi então que decidi começar a enviá-las para editoras, por email e esperar que alguma se dignasse a responder-me.
Passado uns meses respondeu-me uma editora: a Papiro (até conhecida, apesar de 'pequenina') e eu fiquei felicíssima da vida. Lembro-me que quando vi o email na minha caixa de correio até se me soltaram umas lágrimazitas de alegria estúpida e pensava cá para comigo, de que afinal, toda a treta do livro 'O Segredo', da 'visualização daquilo que queremos que aconteça na nossa vida' era mesmo verdade.
Wroonnnggggg. (mais uma vez!)
A verdade é que tive uma proposta editorial sim senhora, mas não foi assim de mão beijada e como eu queria, tipo: 'adorámos as suas histórias, vamos editá-las e pronto, não se preocupe com mais nada'. Nop. Neste momento não é assim que o mercado funciona e claro, eles gostaram das histórias e queriam editá-las, mas como eu sou uma perfeita desconhecida no meio literário e livreiro, a única maneira de 'pegarem' em mim e editarem a minha obra, seria 'obrigando-me' a comprar/adquirir cerca de 200 exemplares da minha própria edição e vendê-los pelos meus próprios meios. Ora, feitas as contas, o valor era e continua a ser, insuportável para avançar.
Fiquei varrida de frustração. Mesmo. É a tal coisa, uma pessoa pensa que o sonho está perto de ser concretizável e vai-se a ver, não há bela sem senão.
Apesar de ter tentado negociar e ver se me editavam os exemplares todos sem eu gastar um tostão a editora não cedeu e eu acabei por desistir.
Voltei à carga e toca de enviar as obras para milhentas outras editoras.
Obtive várias respostas. Ao todo, acho que já tive umas 5 propostas editoriais... Mas todas, mesmo todas, 'pedem' (qual pedem, exigem!!) que eu compre parte da totalidade dos exemplares que pretendem editar, o que significa gastar uma verba ainda bastante considerável e que, neste momento, me é impossível de fazer - mais não seja pela minha condição de 'desocupada'. Justificam-se com afirmações do género; 'neste momento é assim que o mercado livreiro funciona, caso contrário as editoras não conseguem lançar novos autores' e eu, por mais que tentasse negociar, dizer que abdicava da comissão nas vendas, que apenas queria era editar a obra, a resposta era sempre negativa e incontornável da parte delas.
Confesso que sempre que dizia às editoras que me era impossível suportar parte da minha própria edição sentia-me a morrer na praia. É como estar quase a agarrar algo que se deseja muito, mas faltar a pontinha de um dedo para o conseguir fazer (neste caso, notinhas na carteira!). De todas as vezes que isso acontecia, sentia que andava a desperdiçar oportunidades pela janela e que podia ser a última vez que alguém reparava naquilo que escrevia e mostrava interesse.
Ora, há uns meses atrás, não muitos, obtive outra proposta. Desta feita de uma pequena editora desconhecida que me apresentava valores bem mais acessíveis de serem suportados. Fiz as contas e achei que se é por carolice que quero mesmo editar um livro - já que em termos de lucro, ao contrário do que muitos possam pensar, isso é nulo - então, bora lá, vamos apostar nisso e tendo em conta o número de exemplares que me pediam para suportar/comprar e o valor dos mesmos, eu conseguia 'aguentar' essa despesa.
Depois de uma acessa troca de emails fiquei a aguardar a chegada do contrato editorial a minha casa. Segundo os responsáveis da editora, o livro seria colocado à venda antes do Natal e por isso, havia urgência no assunto. Achei excelente. A altura para editar um livro infantil era perfeita e permitir-me-ia vender os exemplares que terei de adquirir com alguma 'relativa' facilidade...
Pois, mas nem tudo é como esperamos e afinal, a pressa demonstrada pela editora rapidamente desacelerou... O contrato editorial nunca mais chegava a casa e todo o santo dia eu abrir a caixa do correio em vão.
Finalmente, sexta-feira passada e depois de eu ter enviado 'não-sei-quantos-emails' e telefonemas, eis que chegou. Li-o de uma ponta à outra e agora estou aqui com o dilema de se hei-de mesmo ir para a frente com toda esta história. Isto porque eles editam a obra sim senhora e os preços até são acessíveis e eu consigo suportá-los, mas... o número de exemplares que irão ser editados é baixa, baixinha (apenas 300), eu lucrarei apenas 1,20€ por cada obra vendida - sendo que a mesma irá ter, à partida, um preço de venda ao público de 16€ (algo que considero caríssimo para um livro infantil) - terei de ser eu a organizar a sessão de lançamento (coisa nunca antes vista, ou seja, essas despesas sairão todas do meu bolso), além de que não vejo em lado nenhum livros da dita editora à venda, não terei uma palavra activa na escolha do tipo de ilustração/grafismo que a obra irá ter, ou saberei, sequer, como pretendem divulgar a obra.
Ou seja, basicamente, eu fui a cabeça que idealizou a história, a base de tudo, mas é a editora que fica com todos os eventuais lucros. O autor, (por ser desconhecido, pobrezinho, pequenino, e todos os diminuitivos possíveis de serem aqui referidos), é remetido à sua insignificância...
Mais, se de futuro quiser rescindir contrato com a editora, ainda terei de a indemnizar por todos os livros colocados à venda no mercado... logo, acho que desta história não tiro proveito nenhum, apenas e só a 'carolice', o de saber que editei um livro, que alguém, remotamente, poderá vir a comprar ou a ler ao seu filho, sobrinho, afilhado, etc..
E sinceramente, não sei a tenho carolice para tanto.
Só sei é que esta história, este 'sonho', me deixa um forte sabor agridoce na boca.

4 comentários:

Seni disse...

"O sonho comanda a vida."

parece impossivel! disse...

Olá amiga, que bom voltar a ler-te :)

Não gosto muito de dar conselhos, mas há editoras que para mim funcionam exactamente da mesma forma que as agências e nem todas valem a pena, nem a calorice, nem o sonho, nem nada! Pelo que contas e sendo franca não fazia negócio com eles, parece-me que o teu sonho (caso o venhas a fazer) te vai dar mais dor de cabeça que outra coisa. E se agora ainda prevalece a vontade de continuar a escrever histórias e de querer publicá-las, talvez um contrato em nada vantajoso te tire por completo esse sonho, ou carolice, ou o que queiras chamar. De facto 16euros para um livro infantil é muito, de facto, 1,20 de lucro das vendas é muito pouco, mas pior que tudo isso é teres o sabor amargo de ver a tua história mal desenhada, mal ilustrada, feia, sem que possas dar uma opinião para tal.

Há sonhos que por mais que pareça que lutamos por eles há anos ainda agora começaram. A impaciência, o medo, ameaçam deitar por terra todo o nosso bom senso.

Pensa nisso. Relaxa um pouco, respira e confia. Confia em ti.

Há outras formas de divulgares uma boa história de forma a que alguém pegue nela.

Espero não me ter metido demais.

Beijão

Maffa disse...

Concordo plenamente com a Quica. ò pá... esses gajos säo uns exploradores... que horror. E o pior mesmo era veres a tua história com uma ilustracao que näo gostasses nada... péssimo!!
Porque é que näo fazes um livro na net e metes a vender na net? assim fica um bocadinho do sonho preenchido. eu tenho uns amigos que fizeram isso, vou-te enviar um mail para veres como é que ficou o deles.

Susana disse...

O pior mesmo é que não possas controlar nada... Imagina que sai à venda a tua história mas com umas ilustrações horríveis? Já viste a opção da auto-edição? Mesmo que neste momento não possas fazer isso, pelo menos podes começar a ver e planificar isso.
Beijinhos!