quarta-feira, maio 09, 2007

In my shoes - parte II




















Hoje tive um dia lixado. Daqueles dias em que apetece tudo menos estar ali, com aquelas pessoas, ter de ouvi-las, aturá-las, quando a maior parte das vezes a vontade pede uma resposta afiada na ponta da língua, mas a razão insiste em fazer-nos comportar como adultos. Tenho passado os dias desta semana em reuniões. Umas atrás das outras... com o cliente e internas e parecendo que não, isso cansa-me psicológicamente. Ter ideias, debitar ideias, escrever ideias, defender ideias. Tudo gira sempre à volta do mesmo. Nesta semana antes de ir de férias tenho ainda de deixar pronta uma proposta de comunicação para uma das minhas contas. Acontece que o produto não é fácil de comunicar e confesso, ando sem ideias. Já desenvolvi a parte conceptual da proposta, mas plano de acções que é bom, ainda está imberbe. Como me estava a sentir bastante atrofiada em relação a isto, pedi ajuda às minhas duas colegas de equipa. Mandei um mail a expor o assunto e pedi um pequeno brainstorming entre nós para me ajudar a ter alguma coisa de palpável. Ninguém me respondeu. Perante a inexistente resposta, voltei a insistir e desta vez perguntei em voz alta: 'Viram o meu email?' Após a minha confrontação lá disseram que sim e que falaríamos sobre isso hoje. Durante a manhã foi impossível. Uma delas não estava, logo, reunião a 3, nem pensar. Ficou assim adiada para 'depois de almoço'. À hora marcada perguntei: 'Bora lá meninas, podem agora?' Resposta: 'Agora não dá. Estou atolada em trabalho', respondeu a minha chefe e continuou, 'vai pensando tu'. Eu respondi: 'Eu gostava de ter a vossa ajuda, apenas algumas ideias, quando vocês precisam de ideias, eu também participo.' Acontece que com este meu pequeno 'contra-ataque' irritei a chefe, que não perdeu tempo em pôr veneno e 'cuspiu' a seguinte pérola: 'Ninguém disse que não vai haver reunião. Fazes aquilo que conseguires. Além disso, vai sobrar para mim de qualquer maneira, porque segunda-feira sou eu que tenho de ir ao cliente defender a proposta.' - numa clara alusão ao facto de eu estar de férias nessa altura -Não me fiquei (porque quando vejo que estão a ser injustos não sou de me ficar) e apenas respondi: 'Precisamente, para que não sobre para ti e de forma a adiantar-te o máximo de trabalho correcto possível, é que eu gostaria de ter uma reunião convosco, para saber se o caminho por mim escolhido é o melhor.' Depois disto não me respondeu, mas conheço-a suficientemente bem para saber quando fica 'picada'. Afinal, a enorme quantidade de trabalho que alegou ter para não realizarmos a reunião, permitiu-lhe fazer palavras cruzadas numa banal revista do social, além de ter passado a tarde toda 'enxofrada' e a falar torto comigo. Passado uns minutos mandou-me um mail a marcar reunião para sexta-feira de manhã... que engraçado, sexta-feira é somente, o meu último dia de trabalho antes de ir de férias, além de ser também o dia em que tenho de deixar a proposta pronta... por isso, como imaginam, uma reunião para 'ter ideias' no dia da conclusão da proposta, dá tudo, menos jeito.
No final do dia ainda passei pela Cuf para fazer um exame, uma ecografia mamária. Faço todos os anos como exame rotina e, na minha última consulta de ginecologia, pedi à minha médica para me passar o papel. E pronto, ficou marcado para hoje. Sete da tarde e estava eu na Cuf Descobertas à espera de ser chamada. Sete e meia e continuava à espera... entretanto, perto das oito da noite lá fui atendida. Entrei para um gabinete, e como já sei os procedimentos (despida da cintura para cima), não estranhei quando o enfermeiro me disse para me despir, estranhei sim quando percebi que ele não saía da sala e perguntava: 'Está pronta?' insistentemente. Ainda estive no minúsculo gabinete a fazer 'compasso de espera' e a ver se o homem se ia embora, mas nada! Nem uma bata tinha para me tapar e estava a sentir-me realmente incomodada com a situação. Se a médica estava na sala, porque é que ele insistia em permanecer ali? Todas as minhas ecografias anteriores (feitas no IMI, é certo) nunca tiveram presentes mais ninguém, além de eu e a médica! Lá me decidi a vir para a sala da ecografia e lá estava ele, um rapaz novo que se virou para mim e me disse: 'Deite-se de costas e ponha os braços por trás da cabeça'. E eu que vi que ele não ia mesmo sair dali, e a sentir-me completamente desprotegida e exposta, lá acedi. Mas qual não foi o meu espanto quando ele veio com uma espécie de 'papel' e mo coloca sobre os seios. Fiquei mesmo incomodada com aquilo. Não bastava ele já estar ali ainda tinha de me mexer nas mamas!!?! grrrr.... A médica era super simpática, mas o raio do enfermeiro insistia em entrar na sala a todo o momento e falavam, como se o facto de eu estar ali de mamas à mostra, com os braços atrás das costas, fosse a coisa mais normal deste mundo. Para eles até pode ser, mas para mim não é e acho que lá por estarmos a fazer um exame médico e eles serem efectivamente, 'pessoal médico', têm de respeitar a privacidade dos doentes, por muito que estejam habituados a ver mamas por dia, eu não estou habituada a mostrá-las a estranhos. E não, não acho estes comportamentos 'normais'.
Entrou na sala umas quatro vezes durante todo o exame. Para atender o telefone e para fazer uma série de outras coisas rotineiras e eu a sentir-me terrivelmente envergonhada e a tentar não o demonstrar, olhando repetidas vezes para o tecto ou rindo, daquele riso nervoso miudinho que denota tensão, quando a médica dizia alguma graçola, a desejar que todo este episódio infeliz acabasse. No final, terminado o exame, a médica ficou um bocadinho a falar comigo (sim, eu de maminhas ao leú, com um braço a tapar o peito que ela tinha acabado de ver, mas a tentar agir naturalmente quando todo o meu comportamento gritava: 'tirem-me daquiiiiii') e eis que entra quem? Pois claro, o sr. enfermeiro, que decidiu juntar-se animadamente à conversa e meter-se no assunto, como se o facto de eu estar ali semi nua a falar com duas pessoas fosse, e volto a repetir, a coisa mais normal do mundo...
Decididamente, sempre que vou à Cuf Descobertas, tenho situações surreais para contar! Ou então, sou eu que sou muito 'púdica' ou antiquada e não consigo ver isto com a ligeireza alheia... ou então, estou apenas em dia 'não'.
Quero as minhas férias!!!

2 comentários:

Anónimo disse...

Mafalda,
em relação ao teu trabalho: mas tu ainda estás a moer a cabeça por causa de gente que só sabe o que é espírito de equipa quando lhes convém? Borrifa-te! O que ficar por fazer, fica! Alguém que faça porque tu estás de férias, azar o delas. Nessas coisas aprendi a ser bem pragmática desde que me fizeram muitas e muitas assim.
Quanto ao episódio na Cuf, realmente não é nada normal, que falta de consideração. O que contas é uma situação bastante constrangedora eu também morreria de vergonha! Enfim...

Doces Minhoquices disse...

Minha querida, pior que isso é entrar num bloco operatório coberta com um lençolito (sem mais nada por baixo, a não ser .. pele..) e de repente estás rodeada de médicos.. enfermeiros .. auxiliares de bloco que vão inevitavelmente destapar-te...
Beijos
Sónia