quinta-feira, junho 18, 2015

A lei do retorno


Nestes dois últimos dias tenho andado desanimada. Bem sei que as hormonas têm a sua cota parte de responsabilidade na matéria, que não consigo me controlar com algo que vejo ou com alguma palavra mais fora de tom, algum comentário mais incisivo, imagem, ou situação mais sensível e logo toda eu pareço uma Madalena arrependida. É tramado. Também sei que ando ansiosa e nervosa, que todos os dias me parecem iguais, que o facto de estar em casa há meses, a tentar levar esta gravidez a bom porto - que já tanto exigiu de mim - estão a fazer-me chegar ao limite da vontade e afectam-me a moral. Pode parecer ingrato o que digo, mas sinto que já chega. Já chegava. Já era hora de me aliviar um bocadinho. Esta gravidez levou-me ao limite das forças, da resiliência, da capacidade física. Mexeu comigo. Alterou-me. Deixou-me fragilizada e isso assusta-me, porque sinto que não consigo viver as alegrias que era suposto nesta fase e, não vou negar, tenho medo que afecte a relação que terei com o meu filho. Medos de mãe, será? Ou reais? Não sei. Cada vez sinto que tenho menos respostas e certezas.
A verdade é que esta gravidez tem sido uma viagem solitária. Muito solitária. Horas e dias sozinha em casa, em repouso, com pouco contacto com o mundo lá fora, com os outros, com a vida em geral, à espera, a aguardar por mais um dia, por mais uma semana, por mais uma vitória, por mais uma etapa superada. Meses de injecções diárias, de reacções cutâneas, de dores, de ver o meu corpo a ser brutalmente transformado, de medos, de privações a tantos níveis. De me sentir incapacitada. De me sentir velha com apenas 36 anos. De não me sentir eu. De tentar agarrar-me às pequenas coisas que me dão alegria, que fazem os meus dias, de tentar ser forte, de tentar não me queixar - porque ninguém gosta de pessoas que se sentem vítimas das circunstâncias - nem com pena de si próprias. Tenho uma amiga que já me disse, mais do que uma vez, que "até reagi muito bem face a tudo o que me aconteceu". Não sei como reagi, na verdade. Cada vez tenho menos noção de como os outros me vêem ou como percepcionam aquilo que realmente sou. Se calhar sou eu que tenho uma imagem distorcida de mim mesma. Se calhar - e procurando as respostas que tanto gosto de ligar e encontrar no universo como se fossem (ou são mesmo?) ensinamentos - tenho mesmo de passar por tudo isto. Estava destinado. 
Bem sei que há centenas, milhares de mães, pessoas e crianças por esse mundo fora com histórias e situações e doenças em nada comparáveis com aquilo que passei e com atitudes que fariam envergonhar os meus queixumes vãs. Pessoas com atitude e cheias de vontade de viver, que me dão grandes lições de moral e me fazem pensar "caramba, eu não sei se aguentaria ou teria a mesma força.". Que me deixam envergonhada por sentir as coisas desta forma. Porque me conheço e conheço as minhas fraquezas, porque sei que vacilo e fraquejo em tantos momentos. 

E porque tenho medo, um medo puro e indescritível de estar a queixar-me de tudo o que já passei - de que ele nunca mais nasce, que estou cansada, farta e/ou ansiosa - e de o Universo (lá está, mais uma vez) na sua forma rebuscada e contorcida, decidir dar-me uma lição bem ao género: "Achavas que o que passaste foi mau? Experimenta lá agora."

Por tudo isso, aguardemos. 

1 comentário:

Opinante disse...

Forcinha querida*