terça-feira, março 27, 2007

interdição



















Todos os dias, desde há muitos anos, que eu e a minha querida amiga 'Cabeça' - assim apelidada desde os tempos da faculdade, altura em que fizemos fortes laços de amizade que perduram até aos dias de hoje - trocamos mails de forma constante durante o dia de trabalho. Quem me lê poderá pensar que isso atrapalha o meu ritmo e o meu desempenho, mas não, entre uma coisa e outra e sempre que o trabalho o permite, lá vamos pondo a conversa em dia, falando dos assuntos mais banais e triviais, desabafando, relatando episódios que vão sucedendo à medida que as horas passam, sabendo como é que o estado de espírito da outra se encontra, em suma, falando através de email, de tudo aquilo que o tempo, a vida e as oportunidades não nos permitem. De há uns tempos para cá começámos a ter problemas com esta nossa troca de e-mails intensiva. Começou com a minha mudança de trabalho e de respectivo e-mail. Quase todos os dias havia problemas e raras eram as vezes em que conseguíamos contactar através dos nossos correios electrónicos. Depois de muito insistirmos junto dos help desk das respectivas empresas para nos resolverem o problema, e de desesperarmos à espera de uma resposta que se revelava quase sempre nula e sem solução, decidimos passar ao plano B e arranjar um email alternativo que nos permitisse continuar a converseta. Assim foi. Eu comecei a enviar-lhe e-mails da minha conta do Yahoo e a coisa correu lindamente até... hoje!
A rotina foi a mesma de sempre: chegar ao trabalho, ligar o computador, abrir o outlook (do trabalho), o messenger, ir beber café, fazer um bocadinho de conversa com os colegas e rir logo pela manhã para começar bem o dia e depois, quando regresso à secretária, mandar um mail de 'Bons dias' à minha 'Cabeça' e esperar que ela me responda. E ela respondeu e durante uma meia hora, trocámos uns 3 ou 4 emails até que ela me disse: 'vou ter um novo computador, por agora vou parar de mailar' e pronto, foi a deixa para eu saber que durante algum tempo não iria ter notícias dela. E esperei, esperei e esperei e nada. A resposta não chegou... ou melhor, chegou sob a forma de sms com uma triste notícia: a nossa comunicação electrónica tinha sido novamente interceptada. Fiquei mesmo triste. Nós já andávamos desconfiadas dos informáticos da empresa dela, mas desta vez tinha sido flagrante. Ao trocarem-lhe o computador, bloquearam-lhe o acesso de envio de email para o meu correio electrónico e assim, limitaram as nossas conversas.

Claro que eu sei, que como entidade patronal, eles têm o direito de o fazer, alegando convenientemente, que tamanha forma de comunicação intensiva, coloca em causa a produtividade das respectivas trabalhadoras... Mas também sei - até porque eu também já trabalhei na mesmíssima empresa onde ela trabalha - que não há ninguém dentro daquela casa, mas ninguém, que não utilize o mail para conversas pessoais, muitas vezes a roçar o ordinário e o engate barato, para os mais diversos fins... e não é por isso que lhes bloqueiam os respectivos emails.

Toda esta explicação dos factos, para desabafar que este episódio 'cibernético' me deixou bastante triste durante toda a tarde. Falar com ela é quase como um ritual. Sem esse pequeno grande pormenor, o meu dia fica bem mais pobre e triste - basta dizer que quando uma de nós vai de férias, o Outlook da outra perde vida e deixa de fazer sentido. Sem as minhas conversas diárias com a minha 'Cabeça', a tarde custa a passar, as horas arrastam-se e o trabalho torna-se monótono e enfadonho. Esta conversa pode até soar a 'novelesca' barata, mas é verdade. Partilhar com ela o meu dia e os seus pequenos pormenores insignificantes, fazem-me sentir feliz, ler as suas piadas sarcásticas ou o seu humor caústico, são deliciosos momentos de pura cumplicidade. E pensar, que a partir de amanhã, os meus dias não serão iguais a tantos outros dias, vazios muitas vezes de sentido mas cheios de significado, provoca em mim um alastrar de tristeza profunda.

E ainda agora, passadas tantas horas, não consigo conformar-me.

ps - Se a minha escrita soar a muito rebuscada, mais do que um estado de espírito, tem uma certa explicação lógica - voltei a reler 'Os Maias' e acho que de certa forma, toda aquela descrição minuciosa do casarão O Ramalhete, ou das vestes ricas e detalhadas da Maria Monforte, a 'Negreira' - como é apelidada -, despertou em mim o fervor da escrita elaborada e o recalcado desejo de um dia saber escrever assim, permitindo-me sonhar com a edição do tão desejado livro...



5 comentários:

bisgóia disse...

Amiga, não sei se eles se deram a esse trabalho, se calhar é qq coisa mal configurada. Mas têm bom remédio, criem um endereço de e-mail novo...

Bjs

Anónimo disse...

Xiiii... isso é que é censura! E da grosseira!
Adoro o cão da foto. Muito a propósito a analogia que fazes ao colocar a dita com o bicho aprisionado, neste post! Well done!
Beijinho

Doces Minhoquices disse...

Mafalda obrigada por me deixares fazer parte do teu "blog, diário, whatever". Gosto imenso de vir aqui, gosto imenso de te ler como já te disse e estava cheia de saudades.. mesmo!
Beijocas

Mafalda disse...

Bisgóia:
afinal, não passou de alguma má configuração do novo computador, porque hoje já conseguimos reatar a 'converseta' lol, mas os mails dela para o meu endereço daqui do trabalho, continuam bloqueados... ***

estrelinha:
sim, censura e com tendência a aumentar. Sei de sítios onde até sites estão bloqueados. Felizmente aqui ainda não é o caso, mas este episódio deixou-me bastante cabisbaixa, o que vale é que hoje já conseguimos falar pelo método de sempre! ´devia de ser alguma má configuração que ontem não permitiu a fluência da comunicação! lol
beijinho grd*

Sónia:
fizeste bem em enviar-me o mail! eu tenho-me tentado lembrar de todos aqueles que me 'seguiam', mas por vezes é complicado! assim já resolvemos a situação! :) beijinho grandeeeee*

Gatinha disse...

Mas isso só acontece porque usas um programa de mail. Se acederes à tua conta de mail através do browser de certeza que será difícil perceberem que mensagens e quantas trocas por dia ou com quem.