terça-feira, junho 02, 2015

O maior monstro da minha filha é o irmão

De há uma semana para cá que temos vivido situações de algum stress cá em casa sobre o assunto 'irmão'. A M., depois de um período de felicidade total sobre o facto de ir ter um irmão e de ter reagido muito bem a todos os preparativos e à ideia, agora que a gestação está mesmo no final e a chegada do irmão é eminente, começou a ter comportamentos e atitudes que nos deixam a todos perplexos. 
Desde cedo que preparámos a chegada do irmão em conjunto e a três nunca a deixando de parte. Ela que, durante tanto tempo, pediu um irmão - incluindo ao Pai Natal - começou recentemente a fazer cenas de ciúmes, a choramingar sempre que se fala no assunto e a dizer que "vê monstros" na hora de dormir, quando nem está deitada há 5 minutos. Já falámos com ela várias vezes, já explicámos que ninguém irá ocupar o lugar dela, que será a ajudante da mãe - que vou precisar muito dela, que somos uma equipa - que as coisas dela são dela e que, quanto muito, poderá emprestar ao mano, assim como o mano emprestará as dele, mas apesar de ela perceber isso tudo, o medo e a insegurança que sente de momento é maior do que toda a racionalidade que lhe atravessa o pensamento. 
Eu compreendo o medo que possa sentir e a insegurança perante o desconhecido e a novidade de ter um novo elemento na dinâmica familiar que lhe roubará as atenções e onde ela deixará de ser o principal foco, ainda para mais sendo a M. uma criança sempre tão auto-centrada e com a necessidade de chamar a atenção para a sua pessoa - seja em que situação for - mas estas reacções dos últimos dias andam a deixar-me perplexa.
As cenas de choro e de drama têm sido uma constante. Cenas de se levantar assim que a deitamos e de dizer que está com 'pesadelos' ou que 'vê monstros', idem. Ontem, depois de um dia da criança super animado - onde na escola nem houve direito a estudo, foi só brincadeira, cantigas, histórias e pinturas faciais - depois de termos feito a surpresa de a levar à natação onde ela delirou e estava felicíssima, quando chegou a casa tinha ainda um livro da Princesa Poppy de presente à espera (algo que ela tinha pedido quando fossemos à Feira do Livro). 

A história da Poppy era "Nasceram os gémeos" e abordava, precisamente, a chegada de um irmão e a alteração da dinâmica familiar na vida da Poppy. Nada mais a propósito. Já antes, ainda no início da gravidez e assim que ela soube que vinha aí um mano(a), comprámos um livro da Chicco com a mesma temática. Ontem, depois do ritual de leitura da história antes de dormir e ainda íamos a meio começo a ver a expressão dela a mudar, as lágrimas a encherem-lhe os olhos e nem mesmo o final "feliz" - onde a Poppy tem tempo para estar só com a mãe e fazer coisas com ela, sem os irmãos - a animou. Perdi alguns minutos a acalmar-lhe os medos e a dizer-lhe que ninguém ocupará o lugar dela, que a mãe vai precisar dela para a ajudar, que é e será sempre a 'princesinha' da mamã, mas isso não invalidou tudo o que se seguiu depois. Levantou-se a choramingar com "monstros" por duas vezes, a dizer que tinha 'pesadelos', depois necessitou de ir à casa de banho argumentando que lhe doía a barriga e no final chorou como se não houvesse amanhã. Tem sido assim de há uns dias para cá. Mal se deita, sonha com 'monstros' - quando nem 5 minutos passaram - levanta-se, abre a porta, arranja mil e uma desculpas para não se deitar, chora como se fosse a mais desgraçada das crianças. Hoje de manhã nova cena matinal com drama à mistura. Já li várias coisas na net sobre os medos e as reacções que as crianças podem sentir com a chegada de um irmão à dinâmica familiar, mas começo a sentir-me impotente perante este comportamento. Sinto que quanto mais tento ser compreensiva e demonstrar-lhe o contrário, mais drama faz para chamar (ainda mais) a atenção. 
Deverei dar assim tanta importância ao assunto ou deixar "rolar"? Às vezes acho que quanto mais converso com ela a explicar-lhe o contrário, pior faz e que com tanta protecção estou a criar uma 'prima dona' que à mínima dificuldade se refugia no choro como arma de chantagem.
Eu não tenho irmãos, sou filha única, por isso não sei o que é passar pelo processo, por isso alterno entre o medo de estar a ser injusta com a necessidade de ter de mudar de abordagem. Qual é a mais correcta é que ainda me provoca imensas dúvidas, mas já deu para ver que, neste momento, o maior monstro que atormenta a minha filha é a chegada do irmão.

4 comentários:

Cibele Chaves disse...

Não sei o que é estar no teu lugar e realmente deve ser complicado mas eu por exemplo não teria dado o livro ontem e teria deixado para outro dia. Na cabecita dela deve ter sido o balde de água fria, percebes o que quero dizer? Nós por vezes tentamos explicar e voltar a explicar mas por vezes se calhar é melhor deixá-los extravasar e chorar sem grandes explicações. Na realidade ela está farta de saber e agora chora porque sente mas quando o bebê chegar será outra etapa e logo verás como agir. Para já talvez não possas fazer muito mais para além de a acarinhar.

Anónimo disse...

Eu sou irmã mais velha e tenho 3 filhos com 8, 6 e 3 anos.
Acho que há crianças que reagem pior que outras e que mais vale e expressar o que sente do que reprimir as angústias.
Dito isso: há um momento em que não vale a pena voltar a repetir as mesmas coisas e já só estamos a empolgar o problema. Por isso tranquilizar e repetir muitas vezes o quanto ela é especial e única MAS também não aceitar comportamentos que não seriam aceitáveis noutras circunstâncias sob a desculpa do irmão. E provavelmente assim que este nascer as coisas resolvem-se sozinhas quando vir que não está ameaçada ;)

Mafalda

Cibele Chaves disse...

Outra coisa que me lembrei agora: por esta altura do ano os miúdos andam mais cansados. A tua pode estar também a acusar sintomas de final de ano lectivo. Ficam mais rabugentos, susceptíveis, já só querem descasar.

Mafalda disse...

sim, ela esta semana tem testes (os últimos) da avaliação do ano lectivo, mas eu até acho que a escola dela nem é das mais exigentes e até é bastante tolerante no que diz respeito à carga de trabalhos e coisas que tais. Noto é que o drama tem subido de 'tom' à medida que a data do parto se aproxima e a chegada do irmão pode estar por dias.
Também concordo com o comentário anterior, da Mafalda, que é: os medos e as inseguranças existem e ninguém a recrimina por isso, mas eu nessas coisas sou bastante recta e, tal como o comentário anterior, há coisas que eu não permito. Não adianta andar sempre a tratá-la nas 'palminhas' e a dar-lhe toda a atenção do mundo e a dizer o quanto é especial para ela se aproveitar disso e fazer ainda mais drama e chamar a atenção para a sua pessoa. Já falei com ela várias vezes, já lhe disse que é e será sempre a princesa da mãe, que o lugar dela ou o amor que temos por ela não irá diminuir com a chegada de um irmão, mas comportamentos de 'diva', isso também não lhe permito.
A verdade é que depois da cena de hoje de manhã, já a fui buscar ao colégio e estamos aqui as duas. Está calminha, calminha. Vamos ver se logo à noite, na hora de ir para a cama, a postura muda e instala-se o drama!
"Quem tem filhos tem cadilhos", já diz o ditado e é bem certo! :-P