santos populares 08

Foi uma noite divertida e bem disposta, apesar de ter andado quilómetros a pé por Lisboa e de ter chegado ao final com as pernas inchadas e doridas, que mal caí à cama, adormeci quase automaticamente. Para a minha despedida dos santos populares enquanto residente da cidade, queria algo mais calmo (tendo em conta o meu estado), fugir de grandes aglomerados populacionais (o que é quase impossível nesta data) e apenas apreciar as coisas boas que esta véspera de feriado proporciona - como a boa disposição, a felicidade estampada na cara das pessoas, a noite quente, o cheiro a sardinha assada e as mil cores das flores de papel dos manjericos. Aproveitámos para espreitar as marchas e sentir uma pontinha de orgulho quando em caminhada até ao metro, tivemos a sorte de presenciar a saída da marcha do Alto do Pina do bairro, a pé, cantando e desfilando pela Morais Soares. Na altura, achei toda atmosfera tão intensa, que me bateu a nostalgia e me vieram as lágrimas aos olhos (ok, eu sei que é das hormonas), mas só pensava que vou sair de Lisboa, vou deixar de me sentir um pouco 'alfacinha' (apesar de ter nascido noutra cidade), de ver diariamente estes prédios velhos mas cheios de beleza, de ter o rio como vista e horizonte, de ouvir as buzinas dos barcos em dias de nevoeiro, de sentir a luz projectada nos recantos, de passear a pé até ao metro em noite de Santo António... Nessa altura, enquanto acompanhava a marcha ao longo da avenida, senti que perdia parte da minha história, que uma porta se fechava e que outra desconhecida se abria. Mas naquele momento só me apetecia chorar. Lá lutei airosamente contra as lágrimas saindo vitoriosa da batalha e apreciei o resto da noite em companhia das amigas, no bairro da Bica, entre copos e música alta (eu claro, só águinha!!) e a pensar que este meu bebé, se já ouve sons exteriores só devia de 'pensar', 'estes meus pais são loucos!'. A noite terminou bem e cedo (pelo menos para mim). Eu trouxe o meu manjerico com flor e verso de papel, não fui esmagada pela multidão e chegámos sãos e salvos a casa.

Estamos novamente de férias e hoje senti o meu bebé mexer mais do que nunca. É uma sensação tão estranha e engraçada ao mesmo tempo... E agora dou por mim a contar as vezes que o sinto.

Começou uma nova fase para mim.