segunda-feira, setembro 04, 2006

Only the good die young




Nasci em 78, nos resquícios do pós Vietname, do peace & love americano, do sexo, drogas e rock & roll. Nasci na calmia do pós 25 de Abril, quando os filhos da liberdade ouviam música em gira discos com agulhas saltitantes que liam os pequenos 45 rotações, os famosos singles que mais tarde deram origem aos L´ps. Cresci a ouvir música na aparelhagem lá de casa, com colunas enormes e pesadas, que quando ligadas no máximo se ouviam no início da rua e faziam estremecer as estruturas do prédio. Cantava de microfone usado em punho, os êxitos dos discos de vinil criteriosamente guardados pelo meu pai nos seus tempos de juventude. Ouvia atentamente, o relato pormenorizado de um concerto, no outro lado do Atlântico, nessa América onde quase nasci, onde o vocalista se passeava de coroa e ceptro envergando um majestoso manto. Vi vezes sem conta as fotos a preto e branco que o comprovavam, onde o meu pai afirma ter ficado tão perto do palco que quase lhe podia tocar. Tinha 13 anos, quando em pleno despertar musical, a notícia da sua morte na televisão caiu em mim como uma bomba, e lembro-me de pensar: 'então agora que eu estava a gostar dele, o gajo vai e morre?'.
Nasceu nesse momento a maior frustração musical da minha vida: a de nunca ter tido a mesma sorte do meu pai, a de ver os Queen actuar ao vivo. Partilho com ele o mesmo fascínio por um homem que quis ser maior que a própria vida e que tal como os grandes ídolos, morreu novo, passaporte garantido para a eternidade. Ele com as imagens vivas do ídolo vivo na sua mente, a recordá-las e a revivê-las sempre que lhe apetecer, eu com as imagens idas do ídolo morto, projectadas na televisão e nos cd´s que abundam cá por casa.
Não quero ser nenhum velho do Restelo, saudosista e inconformada e dizer que as grandes músicas já estão todas feitas, mas quase que apetece. Em aniversário da sua morte, não consigo deixar de sentir uma melancolia misturada com uma pontinha de tristeza, ao ver as imagens de algo que me foi tirado demasiado cedo. Queria tê-lo cá mais tempo, senti-lo envelhecer comigo, vê-lo de jaqueta amarela e ténis da Adidas, em poses arqueadas sob um pano de milhares de cabeças em delírio. Queria ser uma delas. Queria tê-lo de calças justas e olhos pintados, entoando áreas dignas de operetas, ou rindo, com um bigode desproporcional à sua imagem, com os seus dentes da frente salientes, que o deixavam 'sopinha de massa' sempre que falava. Freddie era a alma do grupo, o seu impulsionador, aquele que se comportava como uma estrela, mesmo antes de o ser. Porque tinha com ele a certeza daqueles que estão destinados às coisas grandes. O seu legado foi a sua importalidade.
Como dizia a canção: 'The show must go on.' E pelo menos para mim, continuará, sempre.

2 comentários:

Anónimo disse...

tinhas 13 anos. eu tinha 8. mas lembro-me de ver saber pela tv. já doente gravou o dueto para os jogos olímpicos do ano seguinte. faz muita falta. beijinho

Mafalda disse...

faz falta, sem dúvida, mas poder ouvi-lo ainda hoje tocar na rádio, passado 15 anos após a sua morte, não é para todos.***