sábado, abril 28, 2007

Torga, Miguel Torga.




















Buxo
s. m., Bot.,
género de plantas sempre verdes que serve de tipo às buxáceas;
a espécie anã é empregada para guarnecer jardins e a arbórea dá uma madeira muito densa e dura, utilizada para pequenas peças.

Tosar
do Lat. tonsare, freq. de tondere
v. tr.,
tosquiar;
aparar a felpa;
fig.,
roer;
pastar.
do Lat. tusare, freq. de tundere
v. tr.,
sovar, bater;
surrar.

Panasco
s. m.,
erva umbelífera para forragens;
pastinaga;
prov.,
terreno alagadiço em que cresce erva.

Opa
s. f.,
espécie de capa sem mangas, que tem, no lugar destas, buracos por onde se enfiam os braços, e é usada em actos solenes pelos membros de irmandades e confrarias religiosas;
Minho,
bebedeira

Sincelo
s. m.,
pedaços de gelo pendentes das árvores ou dos beirais dos telhados e resultantes da congelação da chuva ou do orvalho.

Anediar
de nédio
v. tr.,
tornar nédio;
alisar;
acariciar

Capilota
s. f., prov.,
tunda;
tareia;
sova

... todas estas palavras e muitas mais, em apenas um conto de 4 folhas... sim, eu sei que corro o risco de me tornar repetitiva, mas não consigo parar de ler os 'Contos da Montanha'. Suspeito que ainda hoje os acabe.
Estou preguiçosa. Tive a manhã toda deitada no sofá a ler e a tirar apontamentos, a sublinhar palavras que queria pesquisar e a rir-me com algumas das histórias, como um gosto simples, como quando oiço os avós do C. contarem pericépias da juventude, ou falarem nas 'lojas' - local onde em certas aldeias, principalmente do interior do país, guardavam o gado. Normalmente, estas lojas eram não mais, do que uma divisão localizada por baixo da casa da família onde o gado dormia. Na casa dos pais do C., lá na terra, 'a loja' como ainda é habitualmente apelidada, ainda existe. No lugar do gado encontramos nos dias de hoje uma espécie de cozinha onde se faz e guarda de tudo um pouco. De cebolas a batatas, passando pelos garrafões de vinho na altura da vindima, ou pelo desmancho do porco quando é dia de matança e onde se deixa o bicho a escorrer, a loja ainda continua a ter um passado presente nas nossas vidas. É na loja que muitas vezes fazemos os almoços e jantares em família. É lá que estão os móveis antigos de casas que nunca cheguei a conhecer mas das quais oiço falar. É na 'loja' que estão os pratos e a loiça mais simples, aquela que usamos diariamente, em vez de meter o elegante faqueiro a uso e deixado descansar, no repouso da sua pomposa caixa forrada, aberta apenas em dias de festa. É na 'loja' da casa dos pais do C. que o chão está forrado a lousa, uma espécie de ardósia muito valiosa por aquelas paragens, que ainda se vê no chão das casas de pedra e pela qual os antigos roubavam se a encontravam perdida na terra ao desbarato. É na 'loja' de uma casa de pedra dos avós do C., a mesma que queríamos recuperar, que eu imaginei uma sala aberta e uma lareira de salamandra enfeitada por paredes de cores quentes.
É por isso que eu gosto dos contos do Miguel Torga, porque neles, revejo e recordo histórias reais que me chegam aos ouvidos sempre que vou 'lá acima', à 'terra', como dizemos frequentemente. Antes de conhecer o C. não sabia o que era uma 'loja', mas hoje, dou-lhes o devido valor, porque apesar de ter nascido e sido criada na cidade, tenho, tal como o meu pai, uma ligação à terra, à vida difícil do campo, às crenças das gentes e às tradições populares, um fascínio e respeito muito grandes. Talvez por ter tido um avô que era leiteiro e durante quase toda a vida ter vendido artigos diversos na praça - que iam desde o colar de pinhões que eu adorava, a canários multicores, ou a tremoços e pevides -, ou por a minha mãe, quando pequena, ter de ir à lenha para acender o borralho e aquecer a água se quisesse tomar um banho quente, algo dentro de mim me faz sentir uma humildade e ternura muito grandes sempre que leio, oiço e presencio cenas e coisas deste Portugal antigo. É por isso que eu gosto da aldeia dos pais do C. Ali há uma simplicidade desarmante, com todas as coisas boas e também más, que daí advém. É aquele silêncio ensurdecedor, a água que corre por todos os pedacinhos de terra, o verde e o monte a perder de vista, o alto da serra, o vento a bater forte cá em baixo, a casa do avós do C. muito humilde, com o seu velho fogão aceso noite e dia, noite e dia. Gosto disso tudo, dos cheiros, das gentes, do calor, do pouco que têm mas dão. Quem me vê, diariamente, maquilhada e vestida à última moda até me pode julgar uma fútil, vã e tonta, mas que se lixem esses todos, quando eu sei aquilo que me aquece a alma.

Sem comentários: