quinta-feira, setembro 27, 2012

Custa muito ser crescido

As palavras da minha filha ontem feriram-me como punhais, foram como mil facadas espetadinhas no peito. Ainda hoje, sempre que me lembro do episódio, não consigo deixar de sentir uma grande mágoa e de ficar com os olhos mareados de lágrimas. Ontem disse-me, preto no branco, que queria ir para casa do pai, que tinha saudades dele e que gostava mais dos brinquedos que tinha na casa do pai do que na minha. Assim, sem estar à espera, quando saía do banho e a enxugava com a toalha, tudo porque estávamos a ter uma conversa sobre a "chucha", esse meu grande cavalo de batalha.
Por mais que friamente eu saiba que ela disse aquilo para me atingir e magoar, numa clara chantagem emocional de "já que não me deixas estar com a chucha, toco-te no ponto fraco", por outro, não consigo deixar de pensar que lá no fundo está a ser verdadeira, mesmo que roce a manipulação.
Não é o ter saudades do pai que me magoa. É normal uma criança ter saudades do pai ou da mãe quando não está com o mesmo. O que me magoa a sério é o dizer-me que não quer mais estar na minha casa, pedir ao pai para a vir buscar quando fala com ele ao telefone, ou que prefere os brinquedos de um aos do outro. Se ela mo diz agora que tem 3 anos, quando for mais crescida, calculo que será pior, até porque não consigo competir com o pai a nível financeiro. Na casa do pai ela vai ter sempre condições e coisas que na minha não tem e com as quais eu estou a anos luz de conseguir equiparar. O quarto dela na minha casa é bem mais pequeno e acredito que os brinquedos não sejam tão atractivos e em menor quantidade, mas dizer-me aquilo assim, na cara, doeu muito. Também acredito que a integridade, respeito e amor de uma criança não se compram com bens, por mais que eles nesta fase não tenham noção do preço das coisas ou dos sacríficios que fazemos. Mas ontem, ontem senti que a estou a  perder. Ontem senti que o meu papel de mãe está profundamente abalado e que falhei. E lembrei-me das vezes em que discuti com a minha própria mãe, em que também lhe disse coisas que a magoei ao ponto de a deixar de lágrimas nos olhos, ou o quanto ter um filho tem tanto de doce como de amargo.
 


4 comentários:

Melissa disse...

Experimenta tirar um cigarro a quem precisa de fumar naquele preciso, precisíssimo momento, a ver se te chamam santa :)

Agora a sério, Mafalda, relativiza. A M. é pouco mais do que um bebé e quando ela fala nos brinquedos em casa do pai, bem, é dos brinquedos em casa do pai que ela está a falar. Se te acalmar um pouco, o meu irmão vivia com a minha mãe, que não tinha um tostão para mandar cantar um cego no Brasil e passava as férias com o meu pai na Disney e quetais. Uma disparidade financeira monstruosa. E posso garantir-te de duas coisas: 1 - ele resultou num homem fabuloso, mesmo com duas educações tão díspares e 2 - ama profundamente o pai e a memória da mãe.

Não deixes a chucha te atingir assim tanto. Pensa bem.

Qualquer coisa, cá estou.

Maffa disse...

Ohhh, näo fiques assim.
Mäe é mäe e pai é pai e vcs os dois säo essenciais na vida dela.
Nem pensar que a vais deixar fazer esses joguinhos manipuladores.
Sê firme e mostra que isso näo te afecta em nada.
O meu martinico tb faz isso diz que já näo gosta do pai ou de mim conforme quem é mais rígido com ele. E depois continua em alto bonding comigo a dizer: "tu tb näo gostas do pai pois näo??- ele é mau..."
Eles estäo sempre a experimentar os limites...
Quanto à disparidade monetária, tens aí um desafio, aposta em programas grátis e fora de casa. É isso que o meu Martinico mais gosta!
beijocas

a. disse...

oh! não querendo desvalorizar a criança, ela só tem três anos, e como tu dizes provavelmente só te disse isso na onda da "manipulação", n tens de te sentir menos ou achar menos porque não tens tantas coisas como em casa do pai, o amor pela vossa filha não é uma competição feita de quem tem mais brinquedos ou menos para ela, ela com a idade perceberá isso... brinquedos são só isso... brinquedos e bens materiais, o amor que vocês sentem por ela isso é impagável e com a idade ela entenderá isso, que não é a quantidade de brinquedos que dita o que quer que seja!!!

bjinhos*

Maria disse...

Sabes, Mafalda, o mais importante dás-lhe tu todos os dias: amor, carinho, limites. O "não" quando não pode ser, o beijo, o colo, as emoções. É isto que a faz crescer e ser íntegra e bem formada. Os brinquedos são só o embrulho da grande prenda que lhe ofereces todo o dia.
Brinquedos caros? Tenho-os cá também. Mas ao que ela liga são as coisas banais, o brinquedo mais simples. E tenho a certeza que ela apenas te diz isso para te magoar. Porque ainda é pequenina e nem se apercebe do quanto lhe dás sempre.
Nada temas.
Um beijinho muito grande